Antes de abrir meus olhos, foi meu nariz que acordou, havia um cheiro…. “Caseiro” no ar, pão fresco, pensei. Aos poucos fui abrindo os olhos e me vi em uma tenta de palha, deitada em uma cama também de palha, olhei para a porta aberta da casa, havia uma luz suave entrando por ela, me levantei e sai.
Estava em uma pequena vila, as montanhas altas faziam um círculo envolvendo o lugar, apenas havia uma saída por terra.
— Você dormiu bastante – uma voz atrás de mim, pulei para longe no impulso, para simplesmente perceber que era Celina, ela sorria para mim.
— Oi? – falei meio receosa.
— Achei que nunca fosse acordar.
— Eu, hã… – pera, ai, tem algo estranho — Você ta falando português?
— Sim, aprendi enquanto você dormia.
— Quanto tempo eu dormi?
— Uns 10 anos!
Essa garota só podia estar brincando comigo, 10 anos, sério? Mas, acabei olhando para Celina com mais atenção, ela parecia um pouco mais velha, seus cabelos, antes loiros, estavam mais esbranquiçados, já era percebível pequenas marcas de expressão no seu rosto.
— Relaxa, sei que está confusa.
— Confusa? Quem é você?
— Ayla, você entrou naquele avião por um motivo, não foi?
— Como sabe do avião? – instintivamente assumi uma postura de fuga, a passagem para fora da vila estava apenas poucos passos atrás de mim.
— Veio aqui atrás de magia!
Celina moveu as mãos e uma enorme chama saiu delas para logo em seguida se moldar no formato de uma flor, com um pequeno gesto de mão, ela veio até mim, obviamente recuei, mas algo me dizia para pegá-la e eu peguei, o fogo não me queimou, na verdade, era algo gostoso, uma sensação gostosa, olhei para Celina.
— Como?
— Magia.
— Isso não explica.
— Por enquanto sim, eu vou te explicar, mas antes, me ajude nas tarefas de hoje, tem muita coisa para fazer – ela pegou um cesto do chão e foi em direção à floresta, eu, por algum motivo a segui.
O dia foi passando, se Celina falou meia dúzia de palavras, foi muito, isso começou a me irritar, sei que comecei essa viagem com o intuido de saber se magia era real, mas estar andando com uma pessoa que tem as pessoas mas não quer me dizer, isso é frustrante.
— Hã Celina….
— Sim? – falou sem olhar para mim.
— Não é que eu não goste da sua companhia, mas… existe um jeito de eu ir embora? – Celina não disse nada, apenas se virou e olhou para mim — Preciso realmente voltar.
— Porque?
— “Porque? “
— É, você atravessou o oceano para descobrir o que era magia, e agora quer ir embora – ela voltou a pegar frutas, essa garota é estranha.
— Se você parasse de pegar frutas e me falasse o que ta acontecendo, talvez eu não quisesse ir embora.
Celina ficou muda e paralisou no lugar, ela não olhou para mim.
— A primeira coisa que tem que aprender sobre magia, você nasce com ela.
— Ok…
— Segundo, existem duas de você.
— Como assim?
— Você vai descobrir, bom é hora de voltar. – ela seguiu de volta a vila.
Resolvi sair de fininho e fui em direção à praia, eu ainda não conseguia engolir a história de 10 anos em coma, ela só podia estar…. brincando….
Assim que cheguei na praia, me deparei com uma rocha encoberta por uma rosa e vinhas, era o mesmo broto que tinha visto quando “cheguei” na ilha, o que foi que aconteceu?
Os dias foram passando, eu rodei a ilha inteira, cada canto dela, nunca encontrei outro sobrevivente do acidente, nem Hai Rong… inevitavelmente acabei voltando e ajudando Celina nas suas “tarefas diárias”.