Eu sempre vivi em você

PS: “Peço perdão se alguma frase escrita em Mandarim estiver errada,
eu, Eric, ainda tô aprendo a escrever e falar nessa língua.”

Ela era muito bonita. Essa foi a minha reação quando vi aquela mulher de cabelos quase brancos, soltar uma chama de suas mãos, eu tinha apenas 6 anos, e fiquei maravilhada, porém, ninguém sequer acreditou em mim, “Sua imaginação é bem fértil” “Deveria virar escritora Ayla”. Me sentia a esquisita. Por que ninguém acreditava em mim? Durante os anos seguintes, decide estudar tudo que podia sobre magia… claro tudo que eu pudesse encontrar na internet.

Entrei na faculdade para estudar arqueologia, de todas as matérias, talvez fosse a melhor, que, me deixasse perto de descobrir algo sobre magia, durante meu segundo ano, conheci uma garota chinesa, e logo de cara, a gente se gostou muito.

— Eu fiquei pensando sobre o que você me disse – comentou Hai Rong enquanto acariciava minha cabeça.

— Sobre o quê? – perguntei.

— Aquela historia de que você viu uma mulher usar magia.

— Ah…

— Eu conversei com a minha avó ontem, sobre o que você tinha falado, bem, ela acredita em você.

— Serio? – Me soltei do abraço de Hai Rong e a olhei nos olhos.

— Ela queria conversar com você para saber mais.

— Ok, quando? – perguntei animada.

— Mês que vem, eu vou visitar minha família lá na China, quer vir comigo? – ela perguntou de forma meio tímida.

— Mas é claro! – Hai Rong abriu um sorriso lindo e me encarou, e por um instante, eu apenas fiquei observando ela, “tão linda…”, não resisti e a beijei de surpresa…

O mês havia passado rápido, e logo me vi junto de Hai Rong no avião rumo a China, ela dormia apoiada no meu ombro, e segurava minha mão, enquanto eu observava a paisagem. Só se via nuvens, mas durante um momento o céu ficou limpo, e pude ver pequenas ilhas ao longe, não sei porque, mas fiquei estranhamente atraída por uma delas, não podia ver nada dela, mas mesmo assim atraia. Então o céu se fechou novamente com as nuvens, a sensação não parou, assim como o avião que começou a tremer e não parou. Todos os passageiros entraram em pânico. Assim que o avião começou a perder altitude, as máscaras caíram, coloquei rapidamente a minha, mas Hai Rong não acordava, eu a balançava de um lado para o outro, mas ela não acordava, peguei a máscara na frente dela e coloquei nela, foi a última coisa que me lembro antes de desmaiar após colidir com a cabeça no banco da frente.

Eu senti a água salgada batendo no meu rosto, além da areia molhada… areia? Assim que olhei em volta, me vi em uma praia, havia destroços do avião por toda parte, mas a grande maioria havia desaparecido ao cair no mar. Me levantei e olhei em volta.

— HAI RONG! – Gritei e gritei seu nome, cada vez mais alto.

Cai de joelhos na areia… só eu sobrevivi?

Depois de alguns minutos, resolvi caminhar pela praia, mais alguém tem que ter sobrevivido. Dei a volta no lugar, para então perceber que estava em uma ilha, e ainda por cima deserta.

Horas se passaram, estava morta de fome, sentada na areia vi um broto nascendo ao redor de uma rocha, não sei por que, mas aquilo me acalmou um pouco, me virei para a floresta logo atrás e então decidi me “aventurar mata adentro”. Em meus olhos, lagrimas não paravam de escorrer, e para ser bem sincera, talvez elas fossem as minhas únicas companheiras naquele momento.

O que me chamou atenção naquela floresta, era que haviam estatuas espalhadas por todo lado, algumas tinham chifres na cabeça, outras pareciam ter uma cauda de lagarto, me eram intrigantes, até que ouvi um som, não, uma melodia.

Era suave, alguém cantava ali perto, fui na direção do som e encontrei uma moça, talvez da minha idade, ela tinha cabelos loiros quase brancos e uma pele clara, sua voz era doce e me vi perdida escutando, mas ela notou a minha presença e se assustou, se escondendo atrás de uma rocha.

— Desculpa, eu não queria te assustar! – falei levantando as mãos.

— 你是誰?

“chinês” pensei.

— 我的名字是艾拉!- Falei. Ela pareceu surpresa de eu falar sua língua, desde que comecei a namorar Hai Rong, me tornei “fluente” em mandarim.

— 你会说我的语言吗? (Você fala minha língua?)

— 是的 (Sim)

— 你是谁?(Quem é você?)

— 我叫艾拉。(Meu nome é Ayla.)

— 艾拉…我是塞琳娜 (Ayla… Sou Celina)

— “嗨塞琳娜,抱歉吓到你了,但我需要帮助。(Oi Celina, desculpe te assustar, mas eu preciso de ajuda.)

— 我帮!(Eu ajudo!)

— 帮助? 你还不认识我 (Ajuda? Ainda nem me conhece)

— “我知道…” (Conheço sim…)

Antes que pudesse raciocinar sobre meu repentino encontro com Celina, eu apaguei de repente.

Antes de abrir meus olhos, foi meu nariz que acordou, havia um cheiro…. “Caseiro” no ar, pão fresco, pensei. Aos poucos fui abrindo os olhos e me vi em uma tenta de palha, deitada em uma cama também de palha, olhei para a porta aberta da casa, havia uma luz suave entrando por ela, me levantei e sai.

Estava em uma pequena vila, as montanhas altas faziam um círculo envolvendo o lugar, apenas havia uma saída por terra.

— Você dormiu bastante – uma voz atrás de mim, pulei para longe no impulso, para simplesmente perceber que era Celina, ela sorria para mim.

— Oi? – falei meio receosa.

— Achei que nunca fosse acordar.

— Eu, hã… – pera, ai, tem algo estranho — Você ta falando português?

— Sim, aprendi enquanto você dormia.

— Quanto tempo eu dormi?

— Uns 10 anos!

Essa garota só podia estar brincando comigo, 10 anos, sério? Mas, acabei olhando para Celina com mais atenção, ela parecia um pouco mais velha, seus cabelos, antes loiros, estavam mais esbranquiçados, já era percebível pequenas marcas de expressão no seu rosto.

— Relaxa, sei que está confusa.

— Confusa? Quem é você?

— Ayla, você entrou naquele avião por um motivo, não foi?

— Como sabe do avião? – instintivamente assumi uma postura de fuga, a passagem para fora da vila estava apenas poucos passos atrás de mim.

— Veio aqui atrás de magia!

Celina moveu as mãos e uma enorme chama saiu delas para logo em seguida se moldar no formato de uma flor, com um pequeno gesto de mão, ela veio até mim, obviamente recuei, mas algo me dizia para pegá-la e eu peguei, o fogo não me queimou, na verdade, era algo gostoso, uma sensação gostosa, olhei para Celina.

— Como?

— Magia.

— Isso não explica.

— Por enquanto sim, eu vou te explicar, mas antes, me ajude nas tarefas de hoje, tem muita coisa para fazer – ela pegou um cesto do chão e foi em direção à floresta, eu, por algum motivo a segui.

O dia foi passando, se Celina falou meia dúzia de palavras, foi muito, isso começou a me irritar, sei que comecei essa viagem com o intuido de saber se magia era real, mas estar andando com uma pessoa que tem as pessoas mas não quer me dizer, isso é frustrante.

— Hã Celina….

— Sim? – falou sem olhar para mim.

— Não é que eu não goste da sua companhia, mas… existe um jeito de eu ir embora? – Celina não disse nada, apenas se virou e olhou para mim — Preciso realmente voltar.

— Porque?

— “Porque? “

— É, você atravessou o oceano para descobrir o que era magia, e agora quer ir embora – ela voltou a pegar frutas, essa garota é estranha.

— Se você parasse de pegar frutas e me falasse o que ta acontecendo, talvez eu não quisesse ir embora.

Celina ficou muda e paralisou no lugar, ela não olhou para mim.

— A primeira coisa que tem que aprender sobre magia, você nasce com ela.

— Ok…

— Segundo, existem duas de você.

— Como assim?

— Você vai descobrir, bom é hora de voltar. – ela seguiu de volta a vila.

Resolvi sair de fininho e fui em direção à praia, eu ainda não conseguia engolir a história de 10 anos em coma, ela só podia estar…. brincando….

Assim que cheguei na praia, me deparei com uma rocha encoberta por uma rosa e vinhas, era o mesmo broto que tinha visto quando “cheguei” na ilha, o que foi que aconteceu?

Os dias foram passando, eu rodei a ilha inteira, cada canto dela, nunca encontrei outro sobrevivente do acidente, nem Hai Rong… inevitavelmente acabei voltando e ajudando Celina nas suas “tarefas diárias”.

— como consegue fazer? – perguntei.

— Você ainda duvida?

— Só que… estive pensando e pesquisando sobre deste de pequena, sei lá… la no fundo, eu não sabia se era real mesmo e ainda não tenho certeza.

Celina juntou as mãos em um símbolo e a água do rio dançou em volta dela, depois foi até mim e me envolveu, mas eu ainda conseguia respirar, ela desfez o símbolo e a água se desfez.

— Magia é real, e você vai dominar, fica tranquila.

Ela voltou a usar magia para pegar alguns peixes, eu voltei meu olhar para o céu matinal, os raios do sol começavam a alaranjar o ambiente, e o clima esquentava, olhei novamente para Celina, la no fundo, só conseguia pensar em uma coisa. sua feição, tinha algo familiar.


Três meses se passaram, nesse meio tempo, Celina me explicou sobre magia me mostrando diversos usos diferentes, pesca, cozinhar, limpeza e entre muitas outras atividades.

Para o meu espanto, eu estava gostando de estar aprendendo tudo aquilo, passei anos sendo chamada de “doida”, queria ver a cara de todos agora. Realmente queria ver…

Mais três meses se passaram, e uma coisa eu notei, as feições de Celina mudaram nesses seis meses, ela parecia uma mistura da Hai Rong comigo, era estranho, foi uma transição suave, mas eu percebi, era como me olhar no espelho, tirando o fato do cabelo branco e ela também parecia ter ficado mais nova, não muito.

Então 1 ano se passou, era noite e eu estava sentada no topo da única montanha da ilha, eu observava o horizonte. Comecei a sentir meu corpo esquentar, não era calor, era algo que não sentia a muito tempo, o sentimento mais primitivo da raça humana. Celina surgiu por te trás de mim e me abraçou, nas ultimas semanas, ela havia começado a apresentar um comportamento mais intimo a mim. Já eu, comecei a levemente sentir algo, algo intenso, o que estava acontecendo?

— Ayla… eu…

— Eu sei… – droga, eu não quero admitir.

— Sei que quer usar magia, e a essa altura talvez ja tenha entendido.

— Sim…

— Eu preciso de você essa noite. Deita comigo!

Seu olhar tinha um tom de melancolia, tinha algo mais além desse pedido. Pude pensar por mim mesma, deveria? Seria certo? Eu queria? Não sabia a resposta para nenhuma dessas perguntas, então… pelo calor do momento…

Sentir seu corpo contra o meu foi uma sensação nova misturada com algo já antes sentido, fazer sexo com uma maga era… especial? Mágico? Sei lá. Sua boca dava pequenos selinhos no meu pescoço, o que me arrepiava, uma de suas mãos percorria minha cintura, enquanto a outra passeava pela minha coxa, eu puxava seu cabelo delicadamente, minha outra mão deslizou por suas costas e parou em sua bunda, que logo a apertei levemente, Celina se afastou do meu pescoço e beijou minha boca intensamente, senti meu corpo estremecer com aquilo. Um pensamento me questionou, já que estamos aqui, por que não ir com tudo? Então assumi a frente e a joguei contra a grama do chão, a aquela altura, Celina parecia comigo, era realmente como olhar em um espelho…

De repente eu acordo, minha cabeça está doendo, demoro alguns segundos para acordar de fato, mas o que me intrigou mais, era o simples fato de que estava no meu quarto em minha casa, foi um sonho? Não, não, não, não era possível, me levantei e fui ao banheiro.

Assim que entrei, fui logo ligando a torneira e jogando água no rosto, mas assim que olhei no espelho, meus cabelos estavam loiros quase brancos, minhas unhas estavam azuis, ainda era eu no espelho, mas estava diferente, parecia…. Celina, liguei a torneira novamente e fui jogar no rosto, porém a água envolveu a minha mão e dançou por ela, eu conseguia controlar perfeitamente.

Minhas pernas fraquejaram e eu me sentei no chão do banheiro.

Então passos foram em direção ao banheiro, e alguém surgiu na porta.

— Tudo bem?

Era Hai Rong, ela se ajoelhou perto de mim.

— Você dormiu bastante hoje, ta se sentido bem?

Ela parecia não ligar para a minha aparência, o que aconteceu? então realmente…

Magia é real.

FIM.

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