Uma noite Arrastada

A noite fora arrastada e July ainda não havia saído da primeira página de seu conto, e o pior o prazo acabava logo ao amanhecer. Andando de um lado para outro, sua única companhia era sua nanica gata branca Sophie, que pela cara parecia estar gostando de ver a dona louca, como de costume.

— Sophie por que não me ajuda a escrever o conto?

— Por que eu não tô afim? — Respondeu à gata.

— Sabe que se eu não conseguir escrever o conto vou ser demitida né?

— E…

— Você fica sem sua ração!

— Você sabe que essa ameaça não funciona mais, né?

— Funcionava quando você era filhote — a gatinha deu de ombros — Vai, me ajuda a ter ideias!

— É… não, eu prefiro ficar aqui deitada e quentinha nesses cobertores.

Claramente a irônica felina era perfeita para a desesperada July. A garota resolveu focar em seu conto, e não há nada pior para um desesperado pelo prazo do que um estalo lançar o apartamento em um breu total.

— É sério isso? — Exclamou a desesperada indignada.

— Hehe — sussurrou a irônica.

July foi até o interfone, mesmo ele, estava sem energia. Sua atenção então retornou à janela de seu apartamento, as ruas da famosa Avenida Paulista totalmente escuras. July olhou para o computador apagado, fechou os olhos e desabou em um canto da casa com seu rosto entre os joelhos.

Mas por pouco tempo…

— Vem Sophie, vamos até o terraço.

— Por quê?

— Vamos religar a força!

— Espera voltar, além disso, tá frio e eu quero ficar aqui.

Ao subir as escadas para terraço com Sophie em seus braços, July se deparou com uma porta trancada.

— Satisfeita? — Resmungou Sophie.

July movimentou a mão esquerda como se estivesse abrindo a maçaneta de uma porta, e a porta do terraço se abriu, o rosto de ironia passou para ela agora, a pequena felina manteve a face de deboche.

Sophie não estava enganada, o frio assolou as duas em uma rajada só, do terraço dava para acessar a casa de máquinas do prédio onde o gerador ficava. Ao se aproximar da grade de proteção, July movimentou novamente a mão e os fios da grade começaram a se torcer, abrindo passagem para elas.

Ao chegar perto da porta, July deixou Sophie ir ao chão, a gata ficou ao lado da dona, a garota encarou o gerador, seus olhos antes, azuis se tornam amarelos e em um clarão o gerador voltou a funcionar. O silêncio da noite foi interrompido pelos gritos de alegria dos moradores, July deu um sorrisinho para Sophie que rapidamente deu as costas e voltou correndo para as escadas, a garota a acompanhou enquanto os feitiços lançados foram sendo desfeitos.

Assim que entrou no apartamento, a luz acabou novamente, o “maligno” sorriso felino surgiu novamente.

— O que deu errado? O feitiço tava certo!

— Não adianta se não tiver uma fonte real, lei n.º1 da bruxaria, dona novata.

— Não precisa me lembrar dona sabichona, e por que não me disse isso lá em cima?

— Você não perguntou.

Novamente July desabou em um canto da casa com seu rosto entre os joelhos. E novamente, por pouco tempo.

— Tive outra ideia!

— Lá vamos nós de novo…

Ao chegarem na rua, a escuridão tomou conta da avenida, July atravessou a rua em direção ao primeiro transformador que viu, ela olhou de canto, para um lado e para outro, estendeu as mãos e os olhos fizeram seu trabalho, uma luz incandesceu a avenida, e as luzes retornaram nos grandes prédios.

July esperou 10 segundos antes de voltar. Assim que deu meia volta, o transformador explodiu jogando a avenida novamente no breu, na verdade, devido à alta tenção, July causou uma reação em cadeia e vários e vários transformadores ao longa da rua, foram explodindo sequencialmente. A garota meteu o pé.

Ao se jogar no sofá, Sophie pulou em suas costas e se deitou, July olhou incrédula para ela, mas estava sem esperanças e forças para retrucar qualquer coisa.

A garota nem viu quando adormeceu, mas foi acordada com seu celular tocando, era o chefe da revista. Preciso dizer que o coração da garota gelou?

— Alô…

— July, tivemos um problemão aqui, por conta do apagão não vamos conseguir publicar nada hoje.

— Apagão?

— É, não ficou sabendo? Acordou agora garota? — July olhou para a hora no celular, 11:30 da manhã. — A cidade toda teve um apagão e não tem previsão de volta, vamos ter que adiar essa edição da revista e postá-la amanhã ou depois, quando a energia voltar olho o conto que me enviou.

— Que enviei?

— Sim, recebi a notificação aqui ontem de noite, mas enfim, tenho que ir, até. — e desligou.

July não entendeu nada, tirando o fato que ela provavelmente tacou a cidade toda em um breu. Assim que se deu conta, a vergonha vermelhara seu rosto, mas foi apenas por um instante.

Ao olhar para a sua mesa de trabalho, Sophie estava dormindo sobre o teclado do computador.

A garota sorriu.

FIM.

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